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O compartilhar de coração – Monte Vera (Santa Fé) e Ruta 40 Norte da Argentina

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A família de Rene, eu e Tati na ruta 40, Norte da Argentina.

A chance de entrar nas casas da pessoas seguramente foi a melhor parte da viagem até aqui. Desde Montevera, quando estivemos perto da família do meu amigo Horácio Aguirre, até a RUTA 40 no povoado Colalao del Valle quando fomos recebidos por uma família na beira da estrada, que nos ofereceu quarto, comida e muita emoção.

O turismo tradicional nunca foi o meu maior prazer ou interesse e isso se confirma a cada dia nessa viagem. Estar perto das pessoas e sentir um pouco da vida delas nos lugares que vivem é um outro caminho. Compartilhar a mesa e as histórias de vida dá sentido a busca do início da viagem, que é a de abrir e clarear a mente, conhecer uma nova cultura de verdade e mergulhar em auto conhecimento.

O norte da Argentina te dá os dois lados dessa moeda, o da verdade e simplicidade do povo e a do turismo de consumo. Basta você escolher. No meu e no nosso caso (eu e Tati), optamos pelo caminho da incerteza do que pode vir a acontecer e mergulhar no povo. Mas é claro, essa é uma decisão que tem a ver com ideais e também com possibilidade financeira. Porque quanto mais perto da praça central das cidades turísticas obviamente mais cara estará a água, o almoço e o lazer.

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Eu e Tati junto a família do meu amigo Horácio, em Monte Vera, Santa Fé, antes de partir para o Norte.

Estávamos indo de Taffi del Valle em direção a Cafayate e resolvemos parar em uma lanchonete/artesania na estrada. Fomos recebidos pela família de Rene, que nos mostrou o artesanato vendido por ele, na beira da estrada, de várias pessoas da região. Vinhos, cerâmica, tecelagem, madeiras de cactos locais entre outros. Pedimos pra dormir no carro, ao lado da casa, por segurança, e acabamos cantando em uma roda de violão, tomando mate, vinho e comendo pão com queijo feitos por eles mesmos. Falamos sobre política local, história, as vidas de todos e pude sentir como o contato e o compartilhar fez bem tanto pra eles quanto pra nós. Me emocionei durante a noite e não pude me conter.

De início íamos dormir no carro ao lado da casa e fomos convidados a dormir em um dos quartos da casa feita de adobe, jantar e tomar café com eles. A história dessa família é linda. Descendentes direto dos índigenas da região, os Quilmes que guerrearam durante 130 anos com os Espanhóis pelas suas terras, nasceram e moram no local até hoje. Rene, o pai da família, foi quem construiu a casa com as próprias mãos, tijolo por tijolo de adobe. A primeira parte demorou um ano e hoje, quem passa na estrada e olha pra sua construção pode ver uma casa enorme e linda. Muito amor e carinho em cada detalhe. Ser recebido assim, sem mais nem menos, me injetou esperança nas pessoas. Quanto mais simples e conectados as raízes essenciais delas, mais próximas elas estão umas das outras.

No brinde do vinho, Rene fez questão de deixar um gole para a “pacha mama”e brindou nossa visita. No dia seguinte a emoção chegou nele, que segurava as lágrimas na despedida. Família linda, experiência linda.

Meu endereço e telefone estão com eles. Os espero no Brasil.

Um homem sem um ideal não é nem metade do que pode ser.

Não há outro caminho pra morte tranquila se não o caminho da crença em algo. Algo que venha do fundo do coração, cheio de verdade e força.

Obrigado pelos ensinamentos.

Hasta siempre.

A pobreza e a riqueza de um povo. Hasta Siempre! Tafi Del Valle 5.01.15

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Minha barba não para de crescer, a comodidade da vida estática começa a perder sentido e a viagem passa a nos tocar cada vez mais profundamente. Mais uma vez tenho a certeza de que viajar, aberto a mergulhar nas pessoas e na realidade de cada local, faz nosso mundo se abrir imensamente.

O padrão que estamos acostumados a ver no dia a dia e que se repete em todas as grandes cidades do mundo não existe em um pequeno vilarejo de artesãos ou em uma pequena casa no meio do deserto. Afinal, estar isolado significa o que? O mundo não é um só.  O mundo não é só São Paulo, Curitiba, Buenos Aires, Nova York ou Rio de Janeiro. O mundo do Miguel, artesão, é sua casa no sopé da montanha de Tafi del Valle; o mundo do pastor de ovelhas no deserto é a aridez e sua solidão social. Os caminhos são muitos mas só vem quem quer e só segue quem estiver a fim. Estar lutando pra sobreviver na loucura capitalista dos grandes centros, também pode significar isolamento. E o pior isolamento possível, o isolamento de si mesmo.

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A relação de pobreza e riqueza é facilmente questionada nessas horas. As pessoas que conhecemos aqui vivem com muito pouco. Suas casas são quase todas construídas da técnica de Adobe, que mistura terra, água e palha para fazer tijolo quase sem custo algum. A comida que comem vem, basicamente, de suas hortas e da troca de alimento entre as famílias. O artesanato garante um dinheiro a mais e a natureza e a simpleza das coisas torna as relações um tanto mais importantes. Eles acordam e tem as montanhas, o sol, as nuvens e uns aos outros pra se amar.

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Na primeira das famílias que conhecemos, depois de um oi rápido e um presente que dei pras crianças, um massageador de cabeça que tinha comprado em Buenos Aires pra dar um relax na viagem, fomos conduzidos para um tour por suas vidas. Foi nos ensinado a base da técnica de adobe, conhecemos sua casa e a família inteira. Joguei bola com as crianças.

Depois no caminho, ganhamos presentes e damos presentes, fomos convidados para passeios à cavalo pelo prazer da companhia e a troca de experiências. Nos foi apresentado um templo à Pacha Mama por um morador que faz trabalho com pedras e fomos convidados para uma prece a mãe terra.

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É incrível como a pequena distância de um capitalismo mais agressivo, transforma as pessoas duras em seres cada vez mais humanos. Da parte baixa e turística de Tafi para a parte alta e escondida são como duas cidades diferentes. Uma, onde por mais belas paisagens que tenha, o dinheiro parece ser (em uma leitura superficial) o princípio, meio e fim. Em outra,  o dinheiro é quase esquecido e o desejo de acolhimento é o começo, meio e fim.

Saí desse dia com menos bens materiais, que fui deixando no caminho, com alguns presentes… e muito, muito carinho e esperança no coração.

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Como ouvimos de um dos artesãos no sopé da montanha depois que toquei algumas canções pra ele e ele nos presenteou com uma oração para a Pacha Mama e seu trabalho em pedra:  HASTA TODOS LOS MOMIENTOS! HASTA SIEMPRE! Porque usted van estar siempre comigo ahora.

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Poeira nos olhos que querem enxergar. Tucuman, dia 21 de viagem.

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Quase em Tucuman, 4.1.2015 / 19:16hs

A multiplicidade das coisas as torna gigantes. No momento que uma coisa ganha vida ela passa a se tornar maior que a própria pessoa que a criou ou a ela deu vida. No momento, penso que uma taça de vinho é necessária pra desarmar nosso corpo e permitir a passagem do que realmente “é”pra ser.

A poesia diária diminui no cansaço. O cheiro da estrada se torna normal depois de uns dias; a paixão se amansa e o fogo dos ideais vira brasa duvidosa. Mas por trás de nós tudo continua incrível como sempre foi.

O cheio, em cada km de estrada, é sempre novo. A centelha que gerou a paixão está ali esperando mais ar pra queimar forte, assim como o fogo dos ideias que não deixou de existir.

A brasa duvidosa é cada um, que se permite apagar, nas situações boas ou difíceis da vida.

15 dicas pro viajante em Buenos Aires

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Buenos Aires é uma das cidades que mais recebe turistas brasileiros e isso é possível se ver e ouvir na rua. Nessa época e no inverno o português é quase a segunda língua por lá. Houve um tempo em que viajar pra capital hermana era sinônimo de tranquilidade financeira pra nós. Dois anos atrás estive em Buenos Aires e realmente estava tudo muito barato e acessível. O câmbio ajudava e os preços estavam baixos pra comida, bebida e todo o resto. Hoje, o câmbio é praticamente o mesmo, o que parece promissor. Porém, os preços estão lá em cima e realmente Buenos Aires passa a ser uma grande cidade turística como as outras, que tem bons atrativos mas também preços pesados. E nessa balança cada um tem que fazer sua opção. Seguir um caminho tradicional do turista de consumo ou, quem sabe, buscar novas rotas e maneiras alternativas de se viajar.

A minha eu já fiz, mas vou falar mais tarde sobre isso.

Aqui vão as “dicas” pra Buenos Aires:

1 – Esqueça BA barata. Se realmente quer ficar uns dias por aqui venha com um bom dinheiro guardado.

2 – Pra equilibrar  a balança financeira traga seu dinheiro em dólar e faça o câmbio na rua Florida com a pessoa menos mal encarada que você encontrar. O receio existe mas se vc não trocar o dinheiro na rua e for em alguma loja ou “oficina” é mais seguro e certeiro.

3 – Ao invés de curtir os shows de tango tradicionais e caros para os turistas, experimente uma milonga local, como a Milonga Catedral. Assim, você pode proporcionar um dos momentos mais mágicos na sua viagem. É um lugar lindo e antigo, com uma atmosfera poética, preço barato (em torno de R$15,00 pra entrar) e música ao vivo sextas e sábados.

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4 – Viajar de carro pode ser incrível porque te oferece a liberdade e autonomia de parar na estrada pra curtir uma paisagem  ou mudar de cidade a hora que quer, mas na Argentina o preço da gasolina está muito caro. Cerca de R$1,00 mais caro que no Brasil. Vai ficando salgado viajar por aqui.

5 – Se tem pouco tempo aproveite pra ir a BA em um fim de semana. Assim voc6e pode curtir as duas famosas feiras de San Telmo e da Recoleta, com antiguidades e artesanatos respectivamente.

6 – Fique de olho nos cardápios dos restaurantes pra não se confundir com os preços. E já vá sabendo que eles cobram “cobierto”por pessoa, que torna qualquer refeição mais cara que o previsto no início.

7 – A melhor maneira de se locomover no centro de BA é a pé. Os ônibus são complicados pois só aceitam moedas e trocadas no valor da passagem e os estacionamentos pra carros são caros. Claro que uma boa opção se for andar a pé, é na hora que não der mais e quiser um confortinho, pegar um táxi que passa em grande quantidade nas ruas.

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8 – No Brasil conhecemos a marca “Havana”, mas imagine ela como o Mac Donald’s dos Alfajores. Nada contra, pois são gostosos e os cafés da cidade trazem boas opções pra paradas durante as caminhadas. Porém, os preços são um pouco altos comparados a outras marcas mais populares, e muitas vezes tão gostosas quanto, e que se pode encontrar em qualquer “kiosko” ou “panaderia”. Uma dica é o mais conhecido “Jorgito”.

9 – Se aprofundar e conhecer melhor a história da Argentina vai tornar sua viagem muito mais interessante. País guerreiro, politizado e muito combativo. Por vezes, mesmo no verão, poderá encontrar manifestações populares na Av. Corrientes ou Plazo de Mayo. Depois dessa busca, seu passeio no centro histórico vai ter muito mais sentido e poderá enxergar um filme por trás dos prédios e construções que conhecer.

10 – Compre e beba todo vinho que conseguir. Esse é o ponto mais forte por aqui. Vinhos ótimos e muito baratos que no brasil pagamos o dobro ou as vezes o triplo.

11 – Procure pesquisar os antigos e os novos nomes da música, literatura e cinema argentino. Jorge Luis Borges, Mercedes Sosa e Ricardo Darin são alguns dos mais conhecidos, mas uma nova safra de artistas principalmente do folclore arrisca se colocar como uma das mais talentosas da história do país. Vale a pena conferir.

12 – Não deixe de provar e quem sabe até levar pra casa o doce de leite dos hermanos, que se vangloriam de terem sido eles que o inventaram.

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13 – Mergulhar no ritual do mate vai fazer você mergulhar na cultura mais linda desse povo, que compartilha ideias, conversas e amizade, por praças, parques e até bares e restaurantes.

14 – Vir a Buenos Aires no verão é saber que vem ao Rio de Janeiro, mas sem praia. Calorão mesmo. Pra quem gosta é um bom pedido. Pra quem não gosta, pode pensar que um ótimo lado é que nessa época muitos portenhos saem da cidade e ela fica muito mais tranquila

15 – Buenos Aires é linda, histórica e poética. Porém, vale pesquisar e pensar que existem muito mais destinos incríveis na Argentina.

Buenos Aires com pouco dinheiro e sem celular – 28.12.14

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Chegou a hora de Buenos Aires! Um grande centro urbano, que não é minha preferência, mas que tem muita história pulsante e um povo com espírito combativo, o que sempre me agradou e me fez querer ver e saber mais.

Dia 25 de dezembro chegamos por aqui, depois de passar a ceia de natal num lugar lindo no Uruguai chamado Colonia del Sacramento. Foram dias gostosos por lá com muita tranquilidade e paz.  A alegria de voltar para Buenos Aires, que foi o berço do meu projeto solo, foi muito grande. E se daquela vez a cidade me inspirou, dessa vez foram as pessoas! Conhecemos muita gente linda por todos os cantos, o que me faz acreditar que mesmo diante da grandeza caótica de uma cidade grande, ainda é possível ver o movimento de carinho, acolhimento, amizade e beleza.

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Nos hospedamos graças  ao amigo Diego Cotelo, em Vicente López, região metropolitana da capital. Por isso, pudemos ser acolhidos em uma área residencial e tranquila, longe da loucura. É claro que muitas das coisas que fizemos foi na área central, como as feiras da Recoleta e San Telmo, ou a Milonga Catedral, que vale muito a pena pra conferir o tango de forma orgânica e acessível. Um lugar interessante pra mergulhar na história portenha é ir a Plaza de Mayo, onde se vê as faixas de protesto e um acampamento, que já dura 6 anos, dos ex combatentes argentinos da guerra das Malvinas. Além deles, as mães dos filhos “desaparecidos” na ditadura protestam semanalmente e a luta continua, como em todos os lugares que há injustiça e desigualdade. Latino América de guerreiros e de um povo sofrido, por todos os lados.

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No dia 25 chegamos e fomos a uma festa na casa da Julia Ortiz e celebramos o natal por lá com ela e seus amigos numa onda tranquila num dia de muito calor. Depois, entre idas e vindas de Vicente Lopez para a capital, pude curtir o dia 26 de uma forma que gosto muito, fazendo música!!
Através de um convite do Marcelo, dono do Martillo estúdio de Buenos Aires, abri um ciclo de cantautores Argentinos gravando 3 canções. Tomamos mate, conversamos sobre a música do país e posso dizer que fomos muito bem recebidos e a música saiu de forma mágica e especial.
A parte isso, pude sentir um turismo que não faz parte de minhas vontades e naturalidade. Gritava aos meus olhos, em alguns lugares, perceber que o registro de uma foto ou vídeo muitas vezes tirava as pessoas de viver aquele momento para poder construir uma alegria estética e compartilhá-la no facebook ou instagram. Nos bastidores da maior parte das fotos que vi, as pessoas estavam sérias ou se arrumando, e assim que o click estava para acontecer o sorriso vinha ao rosto. Logo após o sorriso desaparecia e a produção hoolywoodiana voltava a se tornar a mais banal e desinteressada vida cotidiana. Afinal, uma bela foto, no ângulo certo, com o  filtro certo pode “dar alma” a alma que falta por lá. Será?!

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A crise na Argentina é gritante e dá pra sentir no comportamento e no discurso de cada cidadão. E é claro, nos preços!!! A dificuldade pela qual os hermanos estão passando faz com que, por muitos momentos, se enxergue o sofrimento no rosto da classe mais trabalhadora e consequentemente a exploração dessa época relacionada ao turismo. Parece que estão tentando ganhar tudo que der agora pra garantir o que vem por aí. Em muitos lugares uma água pequena de garrafa está por R$10,00, ou um copo de suco na rua por R$17,00. E ouvi dos próprios vendedores que o preço vai subir ano que vem. Mas onde há dor também há poesia. Em um dos restaurantes que paramos pra comer conversei com o garçom sobre a situação do país. E toda essa dureza e dificuldade, assumida e intensamente vivenciada virava canto de força e garra nessa língua que pra mim é música. Ao se despedir, o garçom, Ernesto, falou: “Si, esta muy mal para nosotros. Pero, bueno… hay que seguir adelante. ” Com força nos olhos, seguiu seu movimento diário de luta, que pra mim é vida.

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Bom, que uma viagem é o mergulho sem medo no abismo do incerto isso eu já sabia, mas agora mais do que nunca. Prefiro cada vez mais a chance da beleza feia ou torta das pessoas e histórias longas,  do que dos shows, cartazes e sorrisos construídos.

“Viver para a verdade é andar na contramão de um tempo em que um sorriso pode ser escravidão”
Amanhã partimos pra reencontrar um grande amigo meu, Horácio Aguirre, em Rosário.

Montevideo visto de dentro da casa de um artista local – dia 19.12

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Ao chegar em Montevideo esperávamos a mesma tranquilidade do povo Uruguaio das pequenas cidades, mas com o receio do que uma cidade grande pode fazer com as pessoas. Claro que como toda concentração de gente, Montevideo absorve mais algumas identidades de fora, mas é marcante a força e a manutenção da cultura em cada pessoa e comportamento.

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Fomos muito bem recebidos no http://www.destino26hostel.com/ que é parceiro da viagem. Pegamos um ônibus para a Ciudad Vieja e caminhamos pelas ruas. Conhecemos as praças, fachadas antigas, sentimos a energia do lugar.

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Almoçamos no Mercado del Puerto, clássico e famoso e pra quem gosta de carne aqui é uma perdição. Eu, por sorte, não faço muita questão e como quase nada de carne, mas aqui não resisti. E, poxa, tava uma delícia!

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Saindo de lá entramos em uma livraria pequena e perguntei pra dois rapazes o que eles poderiam indicar pra conhecermos que não fosse muito turístico e que tivesse a essência da cultura Uruguaia. De pronto um deles se empolgou e começou a falar das opções. Logo me disse que era músico e compositor. Seu nome é Nico. Dei meu disco de presente e, como quase todas as vezes que faço isso por aqui, recebi naturalmente um outro “regalo”. Ele me disse que não tinha um presente físico para me dar e nos convidou para sua casa para ouvir a pré-produção do seu disco novo. Subimos e foi emocionante.

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O papo começou sobre as ideias musicais, ele ouviu meu cd e logo após falou da minha pessoa como se me conhecesse melhor que eu mesmo, somente por ouvir o disco. Nico é de uma grande sensibilidade e um artista de alma, sem amarras ou pressões. Na verdade o Uruguai é assim. Se a seleção nacional volta com a quarta colocação na Copa do Mundo eles são recebidos como campeões. O mesmo na música. A ideia da desconstrução da canção e dos comportamentos mais rotineiros está pulsante no trabalho de Nico e me pegou de jeito, já que estou na pré-produção de um disco novo que caminha por aí. É difícil viver em uma “ditadura”da indústria musical, da linguagem pop que se demonstra tão rígida. Assim, seguimos fazendo música e cantando, mas com medo de sair desses lugares cômodos e “certeiros”. Nico já saiu faz tempo. E refletir sobre isso fortalece minhas novas buscas.

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Nos encontramos como um encontro especial e lindo, que tinha que acontecer. Acaso ou não, o primeiro dia em Montevideo passamos na casa de Nico com ele e sua esposa. Nos falou da “família” dos cantautores Uruguaios desde Gardel até Jorge Drexler e hoje em dia como Diego Azar, que nos indicou. Mergulhamos na realidade e na vida da música de Montevideo, conhecemos nomes e ideias e posso dizer que sai desse encontro mais sensível e crente na desconstrução do meu próprio ser. Na desconstrução do ser que foi se moldando com o passar dos anos. A liberdade é difícil de ser alcançada e também de ser vista.

Que seja intenso como uma viagem, que seja fluído como um rio.

Ah, depois pela noite fomos ao Casino Carrasco e ficamos ricos. Agora vamos viver viajando. Ganhamos R$100,00.

O barqueiro e o artesão de Balizas & a contradição intrigante de Punta Del Leste

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Dia 17 de Dezembro, quarta-feira pela tarde, fomos para Balizas. Um lugar incrível que é cheio de natureza selvagem e pessoas simples que vivem num ritmo tranquilo. Ao chegar lá fomos direto para o principal ponto de referência, as dunas que são separadas por um rio que desagua no mar. É uma visão bonita e pra chegar lá tem que pegar um barquinho pra fazer a travessia, a não ser que alguém queira ir a nado. O preço da travessia é $40 pesos uruguaios por pessoa, que dá em torno de R$4,00. A praia vai longe e pudemos curtir um tempo de calmaria entre as gravações de vídeos.

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Na volta puxei um papo com Miguel, o barqueiro que transporta as almas vivas de um lado para o outro. E aí começou as primeiras delícias humanas do dia. Ele se abriu com a gente e contou sobre sua relação com o mar. Disse que vem de uma família de pescadores e sua vida inteira foi sua relação com a água. Depois de aposentado, com 75 anos, sentiu falta de tudo aquilo e teve que arranjar um jeito que ainda conseguisse manter sua relação com o mar, que segundo ele, em cheiro, gosto e imagem é a maior felicidade que tem em sua vida, junto a sua família. Miguel é o melhor retrato do Uruguaio idoso do litoral, com seu jeito cheio de carinho, palavras profundas e sensíveis sobre a vida e uma vontade enorme de, nas palavras dele mesmo, “passar o melhor dele como Uruguaio para cada um que tem contato com ele”. E assim os Uruguaio vão dando seus passos, com orgulho de seu país e povo e a vontade de abraçar cada um que se aproxima.

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Saímos da praia alguns metros depois passamos por uma banquinha que me chamou muito atenção: “COR EN MATE”. Ali tinha poesia!! Paramos o carro e vimos o trabalho lindo de um artesão que faz desenhos e pinta os “mates” e as “bombillas”.

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Observando troquei uma ideia com ele e descobri algumas coisas legais da origem do mate e da origem do trabalho dele. O rapaz me contou, com sua família observando na casa atrás da tenda de madeira, que a tradição dessa produção vem de seu pai e seu sogro, que faziam juntos, esse trabalho bonito. Agora, além de uma forma de ganhar a vida, era também um jeito de unir a família em torno de uma ideia. Aí ele já emendou sobre todo o ritual e a intenção do mate, das rodas de mate, que a de compartilhar, unir, proporcionar encontros. Que cultura linda!!

Ele me contou também que os primeiros a tomarem o mate foram os índios guaranis no Paraguai, que já faziam uso dessa forma da erva muito antes dos Europeus chegarem. Ou seja, coisa nossa. Coisa Latino Americana.

Não resisti a disponibilidade e abertura e dei um cd “La Buena Onda”de presente pra ele. Sem tempo pra pensar ele reagiu rápido e pegou um de seus trabalhos, um instrumento percussivo feito da mesma cabaça que fabrica as cuias pro mate. A ideia da troca e do compartilhar não está só no discurso.

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Bom, com corações cheios, as vistas repletas de belezas e a vontade de mais fomos rumo a Punta Del Leste, como passagem para Montevideo, já que tinhamos um hostel nos esperando. Estávamos receosos em conhecer e parar em Punta porque tudo que ouvimos tinha relação com ostentação, glamour, dinheiro, muito dinheiro e outras coisas assim. Parecia muito contraditório com tudo que tínhamos visto até então no Uruguai. Mas fomos arriscar!

Ao nos aproximarmos de Punta começamos a constatar tudo que nos haviam dito. De cidades lindas e praticamente artesanais passamos a ver tudo aquilo que já conhecemos em outras cidades envoltas pelo dinheiro no mundo. Prédios enormes e modernos. Restaurantes chiques, lanchonetes americanas e coisas assim. Confesso que eu quase desisti de parar lá, mas a Tati me convenceu a darmos uma olhada, afinal já estávamos ali mesmo.

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E aí quando consegui desconstruir meus pensamentos e me abrir pra beleza do lugar comecei a entender porque tanta gente visita Punta. Uma beleza natural perfeita, com uma praia principal que mais parece uma piscina, um pôr do sol que beija a água antes de dormir e uma calmaria absurda.

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É claro que tivemos sorte pois a temporada pra valer ainda não começou, então pegamos uma época tranquila e mesmo assim com bastante gente pelas praias e ruas.

Dali, pegamos a estrada para Montevideo, pela noite. Cansados mas felizes por conhecer tanta gente linda e também por nos permitirmos vivenciar algumas coisas que de início não faríamos. Siga la ruta!!

Ahora, Montevideo!!

Uruguai, um país lindo de um povo lindo! (Parque Santa Tereza/Punta del Diablo/Águas Dulces)

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Olá!! Desde que chegamos no Uruguai muita coisa aconteceu tanto na viagem externa quanto na interna. E sensação do momento que o Uruguai é o país do coração. Que povo lindo, simples e acolhedor!

Começamos no dia 16 de dezembro, meu aniversário de 31 anos, chegando no Parque Nacional de Santa Tereza, que fica poucos km depois da divisa. É um lugar incrível e muito organizado. Em alguns momentos me lembrei dos desenhos do zé colmeia que assistia na infância. rsrs Um parque enorme, com uma fortaleza linda, muita vida selvagem, acampamento junto com animais como gavião e veados, estrutura super organizada e lugares lindos com cafés, restaurantes e praias selvagens.

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Ficamos uma noite lá mas valia mais tempo. É um lugar pra parar por uns dias pra quem quer esquecer um pouco de tudo ao redor. E uma ressalva importante. É uma área militar! Isso, pra nós brasileiros, sempre causa um receio, mas lá a sensação é oposta. O tratamento foi extremamente educado e relax. Dá a impressão que o governo fez o parque realmente pro uso das pessoas. Está tudo na mão, estruturado e organizado pra quem quiser.

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De lá saímos em direção à Punta del Diablo, um lugar incrivelmente lindo! Tivemos a sorte de chegar num clima de frio, neblina e chuva o que deu um ar bucólico imenso para a praia. Parece um lugar encantado com casinhas de madeira coloridas, barcos pesqueiros, ruas todas de terra. Realmente incrível! Aproveitamos pra fazer nossos vídeos e também uma “La Buena Onda Session”. Gravei uma canção de Jorge Drexler em uma dessas vielas lindas. A Tati estava como uma criança com sua câmera na mão e tantas coisas incríveis aos seus olhos.

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Encantados, fomos procurar lugar pra nos hospedarmos e o sol começou a abrir e muitas pessoas foram para as ruas. Em todos os hostels e hotéis que procuramos percebemos que a fama de um ponto turístico forte se confirmou. Preços muito caros nos fizeram repensar o destino da noite. Conversando com alguns moradores, muito solícitos, fomos em direção a Águas Dulces.

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Pra quem lê pode achar que é muito coisa pra ser fazer em tão pouco tempo. De certa forma realmente é, mas tem algo crucial que permite tudo isso. Uruguai é pequeno, as praias são muito próximas e a estradas são incríveis!! Todas planas e retas. Muito fácil viajar e conhecer essas belezas todas.

No caminho fomos parados pela polícia. Bom, aí deu aquele friozinho na barriga e o receio de problemas. O policial se aproximou, pediu minha carteira de motorista e documento do carro. Perguntei se queria a carta ver e ele disse que não precisava. Pediu pra eu abrir a caçamba da Strada e ele perguntou o que tinha pois estava muito cheia. Falei que era uma viagem grande que íamos pra Argentina e tinha equipamento de som, etc. A reação dele foi essa:  “Que lindo! Me encanta Santa Fé, en Argentina. Es musico ? Que tipo de música?”

Assim foi a reação do guarda que começou a trocar uma ideia comigo e falar sobre o Uruguai e Argentina. No final perguntei se podia dar um “regalo” para ele e deixe um cd La Buena Onda. Ele agradeceu muito e deu um abraço antes de seguir.

Eu já ia continuar a escrever sobre os outros lugares que conhecemos, como Balizas e La Paloma. Acho que vou deixar pra depois, pois é muita coisa!

Até logo!

A estrada e os meus 31

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A viagem La Buena Onda começou ontem. Saímos, eu e Tati, que está fazendo as filmagens e sendo minha companheira de viagem, de São Luiz do Purunã para Garopaba/SC.

Garopaba é linda e foi ótimo termos decidido dormir por lá, pois a estrada ficou movimentada e íamos chegar só por meia noite em Porto Alegre. Me hospedei na minha tia que nos recebeu muito bem e pudemos curtir um pouco da beleza natural desse lugar. Garopaba é um lugar pra ficar 1 mês e sempre ter algo novo pra olhar. Além de praias famosas, como o Rosa e Ferrugem, tem uns lugares lindo pra conhecer. A praia de Silveira é uma das mais belas que já vi, assim como a Praia Vermelha também, que tem um acesso mais difícil mas a recompensa é mais que válida.

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Hoje chegamos em Porto Alegre/RS e ao todo já rodamos quase 800km. A estrada é tranquila, segura e não oferece problemas ou complicações. O mais legal foi parar num posto e ter água quente de graça pro chimarrão ou gelada pro tererê. Aqui o povo sabe o que faz! rsrs

É impressionante como viajar muda a gente. É intenso e tudo vem a tona se a entrega à viagem é também intensa. Hoje no trajeto de Garopaba para Porto Alegre comecei a ser surpreendido pela a estrada. Quando ela quer ela pega a gente de jeito mesmo! Amanhã, 16 de dezembro, faço 31 anos e até agora mal tinha lembrado disso. Hoje, não sei se foi o asfalto ou distanciamento da minha vida diária, mas a torneirinha da emoção abriu e escancarou. As emoções desse ano que vivi vieram todas a tona. Foi tanta coisa, caramba!

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O que for pra ser já é!

Amanhã amanhecemos e vamos pro Uruguai. Pra onde? Não sei, vamos descobrir na hora!

Fé na estrada e na vida!

“trilha sonora de hoje foi mumford and sons”

fotos por Tati Camargo