Poeira nos olhos que querem enxergar. Tucuman, dia 21 de viagem.

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poeira

Quase em Tucuman, 4.1.2015 / 19:16hs

A multiplicidade das coisas as torna gigantes. No momento que uma coisa ganha vida ela passa a se tornar maior que a própria pessoa que a criou ou a ela deu vida. No momento, penso que uma taça de vinho é necessária pra desarmar nosso corpo e permitir a passagem do que realmente “é”pra ser.

A poesia diária diminui no cansaço. O cheiro da estrada se torna normal depois de uns dias; a paixão se amansa e o fogo dos ideais vira brasa duvidosa. Mas por trás de nós tudo continua incrível como sempre foi.

O cheio, em cada km de estrada, é sempre novo. A centelha que gerou a paixão está ali esperando mais ar pra queimar forte, assim como o fogo dos ideias que não deixou de existir.

A brasa duvidosa é cada um, que se permite apagar, nas situações boas ou difíceis da vida.

15 dicas pro viajante em Buenos Aires

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Buenos Aires é uma das cidades que mais recebe turistas brasileiros e isso é possível se ver e ouvir na rua. Nessa época e no inverno o português é quase a segunda língua por lá. Houve um tempo em que viajar pra capital hermana era sinônimo de tranquilidade financeira pra nós. Dois anos atrás estive em Buenos Aires e realmente estava tudo muito barato e acessível. O câmbio ajudava e os preços estavam baixos pra comida, bebida e todo o resto. Hoje, o câmbio é praticamente o mesmo, o que parece promissor. Porém, os preços estão lá em cima e realmente Buenos Aires passa a ser uma grande cidade turística como as outras, que tem bons atrativos mas também preços pesados. E nessa balança cada um tem que fazer sua opção. Seguir um caminho tradicional do turista de consumo ou, quem sabe, buscar novas rotas e maneiras alternativas de se viajar.

A minha eu já fiz, mas vou falar mais tarde sobre isso.

Aqui vão as “dicas” pra Buenos Aires:

1 – Esqueça BA barata. Se realmente quer ficar uns dias por aqui venha com um bom dinheiro guardado.

2 – Pra equilibrar  a balança financeira traga seu dinheiro em dólar e faça o câmbio na rua Florida com a pessoa menos mal encarada que você encontrar. O receio existe mas se vc não trocar o dinheiro na rua e for em alguma loja ou “oficina” é mais seguro e certeiro.

3 – Ao invés de curtir os shows de tango tradicionais e caros para os turistas, experimente uma milonga local, como a Milonga Catedral. Assim, você pode proporcionar um dos momentos mais mágicos na sua viagem. É um lugar lindo e antigo, com uma atmosfera poética, preço barato (em torno de R$15,00 pra entrar) e música ao vivo sextas e sábados.

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4 – Viajar de carro pode ser incrível porque te oferece a liberdade e autonomia de parar na estrada pra curtir uma paisagem  ou mudar de cidade a hora que quer, mas na Argentina o preço da gasolina está muito caro. Cerca de R$1,00 mais caro que no Brasil. Vai ficando salgado viajar por aqui.

5 – Se tem pouco tempo aproveite pra ir a BA em um fim de semana. Assim voc6e pode curtir as duas famosas feiras de San Telmo e da Recoleta, com antiguidades e artesanatos respectivamente.

6 – Fique de olho nos cardápios dos restaurantes pra não se confundir com os preços. E já vá sabendo que eles cobram “cobierto”por pessoa, que torna qualquer refeição mais cara que o previsto no início.

7 – A melhor maneira de se locomover no centro de BA é a pé. Os ônibus são complicados pois só aceitam moedas e trocadas no valor da passagem e os estacionamentos pra carros são caros. Claro que uma boa opção se for andar a pé, é na hora que não der mais e quiser um confortinho, pegar um táxi que passa em grande quantidade nas ruas.

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8 – No Brasil conhecemos a marca “Havana”, mas imagine ela como o Mac Donald’s dos Alfajores. Nada contra, pois são gostosos e os cafés da cidade trazem boas opções pra paradas durante as caminhadas. Porém, os preços são um pouco altos comparados a outras marcas mais populares, e muitas vezes tão gostosas quanto, e que se pode encontrar em qualquer “kiosko” ou “panaderia”. Uma dica é o mais conhecido “Jorgito”.

9 – Se aprofundar e conhecer melhor a história da Argentina vai tornar sua viagem muito mais interessante. País guerreiro, politizado e muito combativo. Por vezes, mesmo no verão, poderá encontrar manifestações populares na Av. Corrientes ou Plazo de Mayo. Depois dessa busca, seu passeio no centro histórico vai ter muito mais sentido e poderá enxergar um filme por trás dos prédios e construções que conhecer.

10 – Compre e beba todo vinho que conseguir. Esse é o ponto mais forte por aqui. Vinhos ótimos e muito baratos que no brasil pagamos o dobro ou as vezes o triplo.

11 – Procure pesquisar os antigos e os novos nomes da música, literatura e cinema argentino. Jorge Luis Borges, Mercedes Sosa e Ricardo Darin são alguns dos mais conhecidos, mas uma nova safra de artistas principalmente do folclore arrisca se colocar como uma das mais talentosas da história do país. Vale a pena conferir.

12 – Não deixe de provar e quem sabe até levar pra casa o doce de leite dos hermanos, que se vangloriam de terem sido eles que o inventaram.

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13 – Mergulhar no ritual do mate vai fazer você mergulhar na cultura mais linda desse povo, que compartilha ideias, conversas e amizade, por praças, parques e até bares e restaurantes.

14 – Vir a Buenos Aires no verão é saber que vem ao Rio de Janeiro, mas sem praia. Calorão mesmo. Pra quem gosta é um bom pedido. Pra quem não gosta, pode pensar que um ótimo lado é que nessa época muitos portenhos saem da cidade e ela fica muito mais tranquila

15 – Buenos Aires é linda, histórica e poética. Porém, vale pesquisar e pensar que existem muito mais destinos incríveis na Argentina.

Estamos em …. Vish esqueci. :p “Alta Gracia” onde Che Guevara morou parte da sua vida e onde sua casa hoje é um museu. Descobrimos uma cidade ótima!! Pequena, tranqüila e barata. Hospedagem calorosa, e restaurante incrivelmente gostoso e barato. Finalmente! Descobrimos a mina de ouro. Logo posto os nomes da pousada e restaurante pra quem estiver pensando em se aventurar pela Argentina.

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Buenos Aires com pouco dinheiro e sem celular – 28.12.14

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Chegou a hora de Buenos Aires! Um grande centro urbano, que não é minha preferência, mas que tem muita história pulsante e um povo com espírito combativo, o que sempre me agradou e me fez querer ver e saber mais.

Dia 25 de dezembro chegamos por aqui, depois de passar a ceia de natal num lugar lindo no Uruguai chamado Colonia del Sacramento. Foram dias gostosos por lá com muita tranquilidade e paz.  A alegria de voltar para Buenos Aires, que foi o berço do meu projeto solo, foi muito grande. E se daquela vez a cidade me inspirou, dessa vez foram as pessoas! Conhecemos muita gente linda por todos os cantos, o que me faz acreditar que mesmo diante da grandeza caótica de uma cidade grande, ainda é possível ver o movimento de carinho, acolhimento, amizade e beleza.

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Nos hospedamos graças  ao amigo Diego Cotelo, em Vicente López, região metropolitana da capital. Por isso, pudemos ser acolhidos em uma área residencial e tranquila, longe da loucura. É claro que muitas das coisas que fizemos foi na área central, como as feiras da Recoleta e San Telmo, ou a Milonga Catedral, que vale muito a pena pra conferir o tango de forma orgânica e acessível. Um lugar interessante pra mergulhar na história portenha é ir a Plaza de Mayo, onde se vê as faixas de protesto e um acampamento, que já dura 6 anos, dos ex combatentes argentinos da guerra das Malvinas. Além deles, as mães dos filhos “desaparecidos” na ditadura protestam semanalmente e a luta continua, como em todos os lugares que há injustiça e desigualdade. Latino América de guerreiros e de um povo sofrido, por todos os lados.

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No dia 25 chegamos e fomos a uma festa na casa da Julia Ortiz e celebramos o natal por lá com ela e seus amigos numa onda tranquila num dia de muito calor. Depois, entre idas e vindas de Vicente Lopez para a capital, pude curtir o dia 26 de uma forma que gosto muito, fazendo música!!
Através de um convite do Marcelo, dono do Martillo estúdio de Buenos Aires, abri um ciclo de cantautores Argentinos gravando 3 canções. Tomamos mate, conversamos sobre a música do país e posso dizer que fomos muito bem recebidos e a música saiu de forma mágica e especial.
A parte isso, pude sentir um turismo que não faz parte de minhas vontades e naturalidade. Gritava aos meus olhos, em alguns lugares, perceber que o registro de uma foto ou vídeo muitas vezes tirava as pessoas de viver aquele momento para poder construir uma alegria estética e compartilhá-la no facebook ou instagram. Nos bastidores da maior parte das fotos que vi, as pessoas estavam sérias ou se arrumando, e assim que o click estava para acontecer o sorriso vinha ao rosto. Logo após o sorriso desaparecia e a produção hoolywoodiana voltava a se tornar a mais banal e desinteressada vida cotidiana. Afinal, uma bela foto, no ângulo certo, com o  filtro certo pode “dar alma” a alma que falta por lá. Será?!

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A crise na Argentina é gritante e dá pra sentir no comportamento e no discurso de cada cidadão. E é claro, nos preços!!! A dificuldade pela qual os hermanos estão passando faz com que, por muitos momentos, se enxergue o sofrimento no rosto da classe mais trabalhadora e consequentemente a exploração dessa época relacionada ao turismo. Parece que estão tentando ganhar tudo que der agora pra garantir o que vem por aí. Em muitos lugares uma água pequena de garrafa está por R$10,00, ou um copo de suco na rua por R$17,00. E ouvi dos próprios vendedores que o preço vai subir ano que vem. Mas onde há dor também há poesia. Em um dos restaurantes que paramos pra comer conversei com o garçom sobre a situação do país. E toda essa dureza e dificuldade, assumida e intensamente vivenciada virava canto de força e garra nessa língua que pra mim é música. Ao se despedir, o garçom, Ernesto, falou: “Si, esta muy mal para nosotros. Pero, bueno… hay que seguir adelante. ” Com força nos olhos, seguiu seu movimento diário de luta, que pra mim é vida.

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Bom, que uma viagem é o mergulho sem medo no abismo do incerto isso eu já sabia, mas agora mais do que nunca. Prefiro cada vez mais a chance da beleza feia ou torta das pessoas e histórias longas,  do que dos shows, cartazes e sorrisos construídos.

“Viver para a verdade é andar na contramão de um tempo em que um sorriso pode ser escravidão”
Amanhã partimos pra reencontrar um grande amigo meu, Horácio Aguirre, em Rosário.